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quarta-feira, outubro 19, 2011



Simples assim, amizades não devem ser amarradas por nós, precisam ser sustentadas através de laços.
Mas laços são frágeis, podem se desfazer a qualquer momento com um simples toque ou um rápido movimento.
Ao mesmo tempo sabemos que existem laços muito bem dados, com capricho, com carinho e que se tornam tão seguros que mais parecem nós. Mas não se parecem com nós que apertam, que prendem, que são impossíveis de se desfazer.
Amizade é algo que precisa de liberdade e ao mesmo tempo de segurança e um laço bem dado
pode ser desfeito a qualquer momento, mas pode também durar uma vida toda, basta ser muito bem cuidado.
De qualquer forma não podemos esquecer que certos nós também podem ser defeitos, aliás rapidamente desfeitos, algumas pessoas são especialistas nisso.
Digo tudo isso pensando em amizades que mais se parecem com obrigação e que vão se sustentando amarradas por nós enquanto o tempo vai esvaziando-as.
Um amigo verdadeiro não nos suga, não tripudia em cima de nós, não vive a mercê apenas dos seus próprios interesses, não exige, não impede o nosso direito de ir e vir.
Mas algumas amizades arrastam-se por aí amarradas por um nó, dependentes e em nome de um passado que se bem analisado não foi assim tão verídico. 
A vida passa e com o tempo conseguimos enxergar determinadas coisas que anteriormente não era possível. O ser humano tem mesmo a fraqueza de colocar vendas nos olhos quando se encanta com alguém.
Não que amigos não possam ter defeitos, mas seus defeitos não podem ser direcionados a nós com o intuito de nos contrariar e prejudicar.
Já dizia o velho ditado - o tempo mostra quem é quem e ninguém é capaz de se disfarçar a vida toda em alguém que não é.
Crie laços com as pessoas que te fazem bem, que lhe parecem verdadeiras e desfaça os nós que lhe prendem àquelas que foram significativas na sua vida  mas infelizmente, por vontade própria, deixaram de ser.
Nó aperta, laço enfeita...simples assim.

autor Silvana Duboc

Há alguns dias...





"Há alguns dias, Deus - ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus -, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro. Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer - eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom" 


- Caio Fernando Abreu

segunda-feira, setembro 20, 2010


“Suspiro tanto quando penso em você, chorar só choro às vezes, e é tão freqüente. Caminho mais devagar, certo que na próxima esquina, quem sabe. Não tenho tido muito tempo ultimamente mas penso tanto em você que na hora de dormir vez enquando até sorrio e fico passando a ponta do meu dedo no lóbulo da sua orelha e repito repito em voz baixa te amo tanto dorme com os anjos”
Caio Fernando Abreu in: Pequenas Epifanias

Amor é justamente isso,

Porque amor é justamente isso, é ficar inseguro, é ter aquele medo de perder a pessoa todo dia, é ter medo de se perder todo dia. É você se ver mergulhado, enredado, em algo que você não tem mais controle…
Carpinejar

sábado, setembro 11, 2010

Olhando daqui, percebo que pessoas e circunstâncias tiveram um propósito maior na minha vida do que muitas vezes, no momento de cada uma, eu soube, pude, aceitei, ler. Parece-me, agora, que cada uma, no seu próprio tempo, do seu próprio modo, veio somar para que eu chegasse até aqui, embora algumas vezes, no calor da emoção da vez, eu tenha me rendido à enganosa impressão de que veio subtrair. A vida tem uma sabedoria que nem sempre alcanço, mas que eu tenho aprendido a respeitar, cada vez com mais fé e liberdade. O tempo, de vento em vento, desmanchou o penteado arrumadinho de várias certezas que eu tinha, e algumas vezes descabelou completamente a minha alma. Mesmo que isso tenha me assustado muito aqui e ali, no somatório de tudo, foi graça, alívio e abertura. A gente não precisa de certezas estáticas. A gente precisa é aprender a manha de saber se reinventar. De se tornar manhã novíssima depois de cada longa noite escura. De duvidar até acreditar com o coração isento das crenças alheias. A gente precisa é saber criar espaço, não importa o tamanho dos apertos. A gente precisa é de um olhar fresco, que não envelhece, apesar de tudo o que já viu. É de um amor que não enruga, apesar das memórias todas na pele da alma. A gente precisa é deixar de ser sobrevivente para, finalmente, viver. A gente precisa mesmo é aprender a ser feliz a partir do único lugar onde a felicidade pode começar, florir, esparramar seus ramos, compartilhar seus frutos.
Ana Jácomo

sexta-feira, setembro 10, 2010

Cometa bobagens. Não pense demais porque o pensamento já mudou assim que se pensou. O que acontece normalmente, encaixado, sem arestas, não é lembrado. Ninguém lembra do que foi normal. Lembramos do porre, do fora, do desaforo, dos enganos, das cenas patéticas em que nos declaramos em público. Cometa bobagens. Dispute uma corrida com o silêncio. Não há anjo a salvar os ouvidos, não há semideus a cerrar a boca para que o seu futuro do passado não seja ressentimento. Demita o guarda-chuva, desafie a timidez, converse mais do que o permitido, coma melancia e vá tomar banho de rio. Mexa as chaves no bolso para despertar uma porta. Cometa bobagens. Não compre manual para criar os filhos, para prender o gozo, para despistar os fantasmas. Não existe manual que ensine a cometer bobagens. Não seja sério; a seriedade é duvidosa; seja alegre; a alegria é interrogativa. Quem ri não devolve o ar que respira. Não atravesse o corpo na faixa de segurança. Grite para o vizinho que você não suporta mais não ser incomodado. Use roupas com alguma lembrança. Use a memória das roupas mais do que as próprias roupas. Desista da agenda, dos papéis amarelos, de qualquer informação que não seja um bilhete de trem. Procure falar o que não vem à cabeça. Cantarolar uma música ainda sem letra. Deixe varrerem seus pés, case sem namorar, namore sem casar. Seja imprudente porque, quando se anda em linha reta, não há histórias para contar. Leve uma árvore para passear. Chore nos filmes babacas, durma nos filmes sérios. Não espere as segundas intenções para chegar às primeiras. Não diga “eu sei, eu sei”, quando nem ouviu direito. Almoce sozinho para sentir saudades do que não foi servido em sua vida. Ligue sem motivo para o amigo, leia o livro sem procurar coerência, ame sem pedir contrato, esqueça de ser o que os outros esperam para ser os outros em você. Transforme o sapato em um barco, ponha-o na água com a sua foto dentro. Não arrume a casa na segunda-feira. Não sofra com o fim do domingo. Alterne a respiração com um beijo. Volte tarde. Dispense o casaco para se gripar. Solte palavrão para valorizar depois cada palavra de afeto. Complique o que é muito simples. Conte uma piada sem rir antes. Não chore para chantagear. Cometa bobagens. Ninguém lembra do que foi normal. Que as suas lembranças não sejam o que ficou por dizer. É preferível a coragem da mentira à covardia da verdade.
.Fabrício Carpinejar